NÃO FECHES A JANELA…

Hoje eu passei, sem perceber, na tua rua,Vi a janela escancarada, e curioso olhei…Lá dentro – me doeu – a realidade nua e crua…Chovia aqui fora… na tua casa eu entrei.

Ao teu lado então, contigo, olhei a rua;E tudo que lá fora eu e você pudemos ver,- ó dor – era a tua realidade nua e crua…Chovia ainda… não parava de chover…

Eu vi também a miséria que lá fora viste,- Nada mais que a extensão do mundo teu -Percebes? Está aqui essa miséria que te assiste,E que quando entrei, tanto me comoveu.

São teus olhos assim, tristes e assustados,Que através de tropeços e privações imensas,Projetam lá fora, perplexos e alucinados,Tuas misérias, privações, descrenças…

Tua difícil vida fácil, já vês, nada te acrescentou…Alguns filhos, tu deste pra outra mãe criar.Eles sorriram para ti , mas você não os desejou.Outros, não deixaste nascer, preferiste abortar.

As crianças que choram – ó cruel desditaSão os teus filhos, desditosos e abandonados.E os que não puderam ver a luz, a ti imploram,Uma prece aos seus espíritos tão mal amados.

Queres de volta a tua paz, de novo ser feliz!Me olhas como a pedir de volta a tua vida…Que eu interrompa a guerra e te cale os ais.Não vês? Se aqui entrei, foi pra te dar guarida.

Sente o cheiro bom que exala das panelas,Chama as crianças pra comer, vai, não demora!As flores se abriram no jardim… veja que belas!Agora, deita em tua rede, que eu não irei embora.

Enfim, entendes como era lindo o que eu te dei?De uma a uma, as aves lá fora estão voltando…A estrela que pediste, na porta eu coloquei…Parou de chover… o sol de novo está brilhando!

Não feches a janela!

MÍRIAN WARTTUSCH